Uma pontual divergência sobre a construção de um estaleiro na praia do Titanzinho, em Fortaleza, acabou abrindo uma ferida política na principal aliança de sustentação do poder no Ceará. As juras de eterna amizade de Cid na posse de Luizianne como presidente do PT estadual, em fevereiro último, não estancou a mais grave queda-de-braço administrativa entre eles desde que assumiram os dois mais importantes cargos públicos no Ceará. Mesmo que nem "a indústria naval do mundo inteiro" vá acabar com a amizade deles, como garantiu o governador, o confronto para convencer população e políticos de seus pontos de vista continua. E o que começou como uma simples diferença de postura, agora se transforma em troca constante de farpas e demonstrações de impaciência de ambos os lados. Na última quarta-feira, Luizianne engrossou o tom e classificou a articulação pró-estaleiro de manipulação e falta de respeito com os moradores do Serviluz, bairro onde se localiza o Titanzinho. Ela se referia ao abaixo-assinado em favor do equipamento no local feito por seu correligionário, o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, Salmito Filho (PT).
Estaleiro à parte, como diria o deputado João Jaime (PSDB) líder tucano na Assembléia Legislativa "a política é feita de gestos". A começar pela troca de elogios e a proximidade demonstrada pelo governador e pelo senador Tasso Jereissati (PSDB) no último dia 5, em Sobral. Embora estejam de lados opostos em âmbito nacional, os dois não deixaram de lado a amizade iniciada na década de 1980, época na qual Ciro Gomes (PSB), irmão do hoje governador, tornou-se afilhado político de Tasso, e quando Cid deu os primeiros passos na política estadual, como articulador político da Secretaria de Governo (Segov).
TEMPERO ELEITORAL - As divergências ameaçam tomar maiores proporções em função da proximidade do período eleitoral. Não bastasse a polêmica, em torno do estaleiro, é travada uma disputa nos bastidores da aliança pela indicação de uma das duas vagas de senador que estarão em disputa. O PT deseja lançar José Pimentel, mas o governador quer que o partido se limite a ocupar uma vaga na chapa majoritária - e hoje já detém o posto de vice-governador, do qual não quer abrir mão. Para completar, a posição que os petistas querem ver ocupada por Pimentel pode, pelos planos de Cid, acabar nas mãos de Tasso Jereissati, arqui-inimigo do partido de Luizianne. Existe, ainda por cima, um cenário nacional, que ameaça colocar os irmãos Ferreira Gomes em um lado da disputa federal diferente daquele no qual estará Lula - e o arco em torno do Governo Federal tem sido o principal sustentáculo da aliança local.
ATORES - No jogo que envolve as alianças entre Cid Gomes (PSB) e Luizianne Lins (PT), algumas personalidades têm peso determinante para deixá-los mais perto ou mais longe um do outro.
TASSO JEREISSATI - Tendo como principal elo Ciro Gomes, o governador Cid Gomes e o senador Tasso Jereissati (PSDB) têm afinidades de longa data. Como o que ocorreu no último dia 5, em Sobral. Cid disse que Tasso é o "maior homem público do Ceará". Em retribuição, o senador afirmou que Cid mereceria ser reeleito. Ao mesmo tempo, o senador é o principal adversário do PT. Enquanto o PT quer eleger José Pimentel senador, tucanos trabalham pelo apoio de Cid a Tasso.
CIRO GOMES - É um abismo entre Cid Gomes e Luizianne Lins. A possível candidatura do irmão de Cid à Presidência é um dos fatores que podem separar governador e prefeita. Além disso, a rixa entre Luizianne e Ciro, quando a petista disputou a reeleição, parece ainda não superada. À época, Ciro a chamou de "coronel de saia" e de "fuleiragem".
LULA - Principal fator para unir Cid e Luizianne, o presidente pode ser, também, determinante para que o acordo permaneça na próxima eleição.
(texto extraído do artigo Aliança em Teste, da jornalista Giselle Dutra, do Jornal O Povo – site: opovo.uol.com.br)