A importância da recuperação e criação de novos centros de esporte amador agrega inúmeros fatores que endossam a tese de que o esporte é mais que uma via de promoção da saúde e reprodução da força de trabalho em qualquer que seja o gênero, público ou faixa etária. Atenua as tensões sociais, dispõe de uma potencial instrumentalização política, ao cumprir a função de inclusão social e constitui uma indústria em franca expansão.
No tocante à prática esportiva, ainda somos um país de sedentários, com apenas uma minoria composta de jovens do sexo masculino e pertencentes à classe dos mais ricos na dedicação à rotina das atividades físicas, tendo ao extremo, o maior público, que vai de crianças a idosos, isolados da praticidade desse conceito e expostos ao desencadeamento de diversas doenças.
Como fator de transformação social, o espaço hoje ocupado pela violência e criminalidade que atrai cada vez mais crianças e jovens, continua sendo gentilmente cedido por toda a nossa sociedade, ao não se preservar os equipamentos esportivos; ao não se priorizar a abertura e funcionamento de núcleos de esporte amador; ao se deixar extinguir os campos de várzea; ao não se buscar o desenvolvimento de projetos em parceria com a comunidade acadêmica, o que poderia contribuir significativamente para se tirar das ruas e situações de risco milhões de jovens que estão nascendo, não sob a perspectiva da longevidade, mas na tragédia das possibilidades de um precoce encontro com a morte.
Se de um lado, ainda impera em muitos municípios a falta de investimento no esporte amador, por outro, também é vigente o preconceito que existe só pais e mães e muitas pessoas que consideram que a prática esportiva estaria associada à fuga dos estudos.
Os dois megaeventos mundiais – Copa e Olimpíadas – vêm em boa hora para o Brasil, por consolidar investimentos em infraestrutura nas cidades-sede, por auspiciar a inclusão do país entre as dez potências mundiais do esporte, potencializando tanto o esporte de exibição, quanto o esporte de participação.
De acordo com Amir Somaggi, especialista em marketing esportivo, o esporte de exibição, ou seja, a exibição do esporte profissional, com receitas em publicidade, direitos de tv, transmissões, patrocínios, gastos nos estádios, arenas, ginásios, autódromos, bem como as demais receitas de times, federações, equipes profissionais, somado ao esporte de participação, que engloba o consumo das pessoas a partir da prática amadora, com gastos típicos do varejo, no comércio de artigos e equipamentos esportivos, suprimentos alimentares, isotônicos, viagens para eventos esportivos e mensalidades em academias e clubes, ergue uma indústria que movimenta por ano nos Estados Unidos, US$ 300 bilhões. Já no Brasil, essa movimentação gira em torno de US$ 50 bilhões, o que indica o aquecimento do nosso mercado.
No entanto, a desproporção que nos permite ver a ausência da cultura esportiva, está na seguinte relação: enquanto a composição da receita do esporte no Brasil se faz em torno de 70% no aplicativo do varejo e 30% de serviços e receitas indiretas, no Estados Unidos, o comércio de varejo responde por 30%, tendo ainda mais 10% da receita total, relativos aos gastos em estádios, ao passo que, no Brasil, os gastos em bilheterias, explorações de estádios e arrecadações com jogos, somados, respondem por apenas 1% de toda a receita do esporte nacional.
Em síntese, temos dois grandes desafios: uma indústria esportiva que precisa ser fertilizada e, paralelamente, fazer sair da utopia o desejo de ver nossos jovens como verdadeiros e dignos exemplos de vitória, em outdoors da vida que permitam a leitura e o entendimento de que a necessidade de se investir no esporte vai muito além do social.
Fonte: Blog do Oman