segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

OPINIÃO: "VIOLÊNCIA FAMILIAR" - Edilson Santana - Promotor de Justiça.

Frases como: "Tenho que aguentar, porque preciso de alguém a meu lado..."; "Filha, suporte, porque casamento é assim mesmo..."; "Em briga de marido e mulher não se mete a colher..."; fazem parte do cotidiano. Assim, é justificada, racionalizada e institucionalizada a tirania conjugal e familiar. É uma monstruosidade a forma que certos homens encontraram para resolver conflitos no lar, submetendo companheiras a condição de escravas. Com efeito, verdadeiras "guerras invisíveis" ocorrem na intimidade da família e constituem um problema de dimensão social de extrema gravidade, com repercussões socioeconômicas e de saúde pública que ameaçam o desenvolvimento dos povos, afetam a qualidade de vida e corroem o tecido social.
Mais de um milhão de mortes são ocasionadas por violência doméstica, anualmente, em todo o mundo. Estudos especializados comprovam que, em 18 países, um total de 20% das mulheres foram violentadas ou sofreram agressões e 25% dos idosos sofreram maus-tratos físicos e psicológicos por serem considerados um estorvo familiar e um custo muito alto para a sociedade.
Nesse cenário desolador, a família, núcleo essencial da sociedade, esfacela-se. O ser humano, que deveria viver em paz, com respeito, fraternidade, liberdade e justiça, torna-se objeto de crueldade e ameaça de destruição. A violência propaga-se assustadoramente, a sexualidade é agredida no seio da própria família e procura-se solucionar o problema adotando métodos igualmente violentos.
Através da violência você pode matar um mentiroso, mas não pode estabelecer a verdade. Através da violência você pode matar uma pessoa odiosa, mas não pode matar o ódio. A escuridão não pode extinguir a escuridão. Só a luz pode. É imprescindível, pois, que os seres humanos aprendam a elementar lição de que qualquer forma de violência contra seus semelhantes volta-se contra eles mesmos. Todos nascem livres e iguais em direitos, dignidade e obrigações, dotados de razão e consciência, devendo agir, uns para os outros, com espírito de fraternidade, sem o que se torna inviável o projeto de construção de uma sociedade justa e igualitária. (Página Opinião - DN - 10/01/2011)

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